Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 3 de março de 2023
Na sua casa, quando o despertador toca, bem cedinho, fica difícil fazer com que as crianças e os adolescentes acordem para ir à escola? Você ouve diariamente aqueles apelos dramáticos de “só mais 5 minutinhos”? Saiba que, do ponto de vista da ciência, esse “sacrifício” imposto aos alunos é discutível.
Especialistas ouvidos pelo g1 reforçam o que a Academia Americana de Pediatria recomenda desde 2014: as aulas não deveriam começar antes das 8h30 da manhã, porque comprometem a rotina de sono dos estudantes.
Sem dormirem a quantidade necessária de horas por noite, eles tendem a apresentar sintomas como: instabilidade de humor (que traz prejuízos na socialização com colegas e professores); falta de concentração; sonolência (a clássica cena de um aluno deitando a cabeça na mesa); diminuição da criatividade; ganho de peso (com propensão a problemas cardiovasculares); e problemas de crescimento.
Abaixo, tire suas dúvidas sobre a rotina de sono ideal para garantir a aprendizagem na escola, a partir de dicas de Anderson Nitsche, neuropediatra do Hospital Pequeno Príncipe (PR), e de Gustavo Moreira Afip, pediatra do Instituto do Sono.
Quantas horas, por noite, crianças e adolescentes devem dormir?
Segundo a Fundação Nacional do Sono, órgão de saúde americano, os parâmetros saudáveis são os seguintes: criança de 3 a 5 anos: 10 a 13 horas; crianças de 6 a 13 anos: 9 a 11 horas; adolescentes de 14 a 17 anos: 8 a 10 horas.
Por que seria melhor que as aulas começassem mais tarde?
Crianças e adolescentes precisam dormir mais do que os adultos. Adiando o horário de entrada dos alunos na escola, eles passam a dormir pelo menos por uma hora a mais. Isso faz toda a diferença: ficarão mais dispostos, bem-humorados e concentrados no dia seguinte.
A privação de sono prejudica a aprendizagem e a socialização. O hormônio do crescimento é produzido enquanto a criança dorme. Ou seja: quanto menos tempo na cama, maior o prejuízo para o desenvolvimento.
“Em geral, quem dorme pouco passa a ficar acordado justamente para fazer atividades de baixo gasto calórico, como ficar em frente a telas. Além disso, vai produzir mais grelina (hormônio da fome) e menos leptina (hormônio da saciedade). O risco de obesidade aumenta”, diz Afip, do Instituto do Sono.
Por causa de mudanças no relógio biológico, os adolescentes tendem a ter sono e a ir para cama só mais tarde. Se, durante a semana, precisarem levantar muito cedo, dormirão poucas horas e ficarão mais propensos a uma queda de desempenho no colégio (sem contar o risco de desenvolverem hábitos não saudáveis, como sedentarismo e uso de drogas/álcool).
Quais são os obstáculos para adiar o horário de início das aulas?
Na Califórnia (EUA), por exemplo, desde 2022, as escolas públicas estão proibidas de começarem as aulas antes das 8h30. Por que é difícil implementar a mesma mudança no Brasil?
“Temos a necessidade de ter período da manhã e período da tarde, para oferecer vagas a todas as crianças. Isso implica oferecer duas jornadas de 4 horas e meia ou 5 horas, mais ou menos. Para dar tempo, as aulas matutinas têm de começar por volta das 7h, não tem jeito”, afirma Luiz Miguel Martins Garcia, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).
Se os dois turnos (manhã e tarde) coincidirem por algumas horas, haverá impacto no transporte escolar, na carga horária de professores e na disponibilidade de salas de aula.
Caso os adultos responsáveis pelo aluno precisem sair para trabalhar muito cedo, podem não ter com quem deixar as crianças até o início das aulas matutinas.
O que fazer para garantir a qualidade de vida dos alunos?
Do ponto de vista da neurociência, um ambiente escuro e pouco ruidoso ajuda muito na qualidade do sono.
O ideal é evitar o uso de telas por no mínimo duas horas antes de dormir. A luminosidade dos aparelhos diminui a quantidade de melatonina (hormônio que vai ajudar no relaxamento) e aumenta a de cortisol (hormônio do ‘alerta’).
“A casa toda precisa entrar no ‘modo sono’. A partir das 19h, é momento de diminuir as luzes, falar mais baixo, fazer uma refeição prazerosa em família e colocar um pijama confortável”, recomenda Nitsche, neuropediatra do Hospital Pequeno Príncipe.
“No caso das crianças, um dos pais pode ir até a cama delas, fazer uma leitura ou ouvir uma música, e ter um momento de afeto. Depois, dar um ‘boa noite’ e, se possível, apagar completamente as luzes”, diz o especialista.
E se os pais trabalham até muito tarde, chegam em casa só à noite e querem ficar com os filhos? O ideal, nesse caso, é focar na qualidade do tempo de convivência. Em vez de ligarem um eletrônico, é melhor conversarem ou lerem um livro, por exemplo. Nada de adiar muito a hora de dormir.