Quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 11 de fevereiro de 2025
Na última semana, o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) encerrou sua data de matrículas para as universidades brasileiras no ano de 2025. Em diversas casas ao redor do Brasil, pais e filhos celebraram a entrada em cursos do ensino superior. Nas redes sociais, são inúmeros os vídeos onde famílias comemoram as conquistas. O momento, no entanto, também carrega uma enorme dificuldade dentro de si — uma parte significativa dos filhos terão de sair de casa para estudar em outro estado.
Não à toa, o sentimento conhecido como síndrome do ninho vazio é comum nessa época do ano — quando os resultados de vestibulares em todo o país são anunciados e os jovens universitários escolhem qual faculdade irão ingressar. São muitos os pais e as mães que precisam processar a saída dos filhos de casa. “É uma espécie de perda irreparável”, afirma a psicoterapeuta de casal e família Tai Castilho, fundadora do Instituto de Terapia Familiar de São Paulo (ITF) e doutora em psicologia clínica pela Universidade de Coimbra.
“É o sinal de que um ciclo da vida está se encerrando — a partir daqui, o filho nunca mais morará com os pais. Ao longo das nossas vidas, temos diversas separações psíquicas. Essa é uma das mais significativas”, diz Tai. Quem concorda com ela é a psicóloga Anahy D’Amico, autora do livro O Amor Não Dói (Paidós, 2020) e dona de um canal do YouTube com mais de 2,2 milhões de inscritos.
“Os pais investem anos criando e cuidando dos filhos. Esse papel acaba por definir a identidade deles”, reflete Anahy. “Quando os filhos saem de casa, é natural que os pais experimentem sensações de tristeza, solidão e inutilidade”. Para a profissional, a grande maioria dos pais dedica duas décadas de suas vidas a cuidar dos filhos. Quando essa tarefa desaparece, as pessoas se sentem perdidas e sem propósito.
“Muitos pais tentam adiar ou impedir essa saída, seja por medo, por apego ou por superproteção. Acusam o filho de abandono, não respeitam os limites estabelecidos. Isso gera tensão e angústia nos filhos”, diz Anahy. “Se sentir triste, inseguro e com medo é natural e faz parte do processo. Não há como evitar esses sentimentos, mas não é saudável tentar sabotar a saída do filho.”
Afinal, o que pode ser feito para tornar essa transição o mais tranquila e saudável possível para ambos os lados? O Estadão conversou com especialistas e com pais e filhos que passaram por essa situação e te dá dicas de como se preparar para o momento do adeus.
Para a psicóloga Anahy D’Amico, as dificuldades em lidar com o ninho vazio vão além das sentimentais. “Para além da perda, existe uma mudança na dinâmica familiar. A ausência física do filho gera saudade, ansiedade e medo”, diz. Se é bem verdade que, atualmente, é mais fácil manter contato via internet e celular, as preocupações continuam as mesmas.
E agora?
Você foi um pai ou uma mãe exemplar. Até ficou triste com a despedida, mas lidou com os próprios sentimentos de forma madura e não deixou que eles respingassem em seus filhos. Ajudou quando necessário, deu todo apoio possível — mas sempre respeitou o espaço e a individualidade deles. Agora, sozinho em casa — ou na companhia do seu parceiro —, não sabe o que fazer da vida. Para as psicólogas, esse sentimento é extremamente comum quando os filhos se vão.
“Os pais costumam viver focados nos filhos, mas o que eles fizeram da própria vida nesse tempo?”, questiona a psicoterapeuta Tai Castilho. “A vida não é só cuidar do filho, a vida também é cuidar de si. No entanto, existem casais que investem tudo nos filhos”. A psicoterapeuta entende que a separação entre pais e filhos é muito pior quando os progenitores não possuem nenhum tipo de projeto para a própria vida. “Antigamente, a família nuclear tradicional exigia esse tipo de sacrifício. Hoje em dia, no entanto, isso está se alterando”.
Para Tai, é essencial buscar outros objetivos que não estejam relacionados a cuidar dos filhos. “É necessário focar em outros lugares e procurar prazer neles — seja no lazer, nos amigos, no trabalho ou na própria relação conjugal”, afirma a psicoterapeuta. A psicóloga Anahy D’Amico concorda com a frase e acrescenta: “Os pais devem adotar estratégias para se adaptar às mudanças e para redescobrir propósitos novos. É um processo de redefinição de identidade pessoal.” (Estadão Conteúdo)