Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

SMS está longe do fim: ele enviou a primeira mensagem do tipo, há 30 anos

“Merry Christmas” (Feliz Natal, em português). Essa foi a mensagem digitada pelo engenheiro de telecomunicações Neil Papworth na primeira mensagem via SMS (Short Message Service) oficial do mundo, há exatos 30 anos.

O recurso de troca de informações, que fez às vezes do WhatsApp no Brasil lá pelos anos 2000, foi o primeiro a aproveitar o sinal de telefonia para enviar e receber mensagens de texto – isso antes mesmo da comunicação móvel funcionar via apps.

Em entrevista exclusiva a Tilt, Papworth lembra o texto de “Feliz Natal” foi transmitido de seu computador para o celular de seu superior na época, Richard Jarvis, em uma festa de fim de ano, num saguão de hotel do outro lado de Newbury, cidade das instalações da Vodafone, no Reino Unido. A empresa foi responsável pelo primeiro envio usando a tecnologia, em 1992.

Apesar do contexto natalino e clima de celebração, por detrás do SMS a situação era mais tensa do que parecia.

“Eu estava rodeado de executivos que queriam vender celulares com o recurso, atentos se a mensagem havia chegado naquele hotel”, conta Papworth. “Apenas quando um deles ligou para o hotel e fez um joinha [confirmando que o SMS havia funcionado] é que eu pude voltar a respirar tranquilo.”

“Tempos mais simples”

Assumidamente nerd de carteirinha, Papworth conta a Tilt que recebeu seu primeiro computador aos 10 anos, o que fez com que visualizasse ainda jovem ter uma formação em ciência da computação.

Aos 21 anos, já trabalhava na Vodafone, em projetos da arquitetura GSM (Global System for Mobile – evolução de tecnologia móvel que permitia, por exemplo, o roaming internacional), comuns a todos os celulares da época.

Antes de trabalhar no desenvolvimento do SMS, Papworth foi um dos responsáveis pela programação do IMEI, chave de segurança individual usada para bloquear celulares remotamente em caso de perda ou furto (funciona como se fosse um CPF do dispositivo).

“Eram tempos mais simples porque tudo era produzido ’em cachoeira’, e uma coisa sempre era reaproveitada em outro projeto”, comenta.

Como o SMS surgiu?

Desde o conceito até a primeira mensagem, o SMS levou cerca de um ano e uma equipe de trinta e seis pessoas — tempo que ele considera anormal para os tempos de hoje.

“Para mim, era o que eu tinha que fazer. Eu tinha 21 anos, gostava de programar e testar, e muitas vezes trabalhava nos finais de semana porque tinha pizza de graça”, afirma Papworth, rindo.

O engenheiro admite que não esperava que o padrão – e sua respectiva evolução, o MMS, que permite emojis, imagens e áudio – teria a forma e popularidade que conquistou.

“Eu lembro que a ideia inicial da Vodafone era criar dispositivos pessoais (os pagers) para executivos receberem mensagens – e apenas isso, sem respondê-las”, destaca.

O uso que as pessoas e empresas começaram a dar pela tecnologia que Papworth viu nascer foi impressionante: “pessoas passaram a pedir comida ou serem atendidas por SMS antes mesmo dos bancos e apps de delivery.”

Segundo a Infobip, empresa de soluções de SMS, em uma pesquisa com 250 pessoas no Brasil, cerca de 57% dos entrevistados afirmaram já ter enviado SMS sobre outros assuntos, inclusive, terminando relacionamentos com companheiros. Em emergências pessoais, 44% já usou o método de mensagem para pedir ajuda.

Futuro do SMS

Com o crescimento de aplicativos de serviços de mensagens (como WhatsApp, Telegram e outros), o SMS acabou perdendo espaço em alguns países – O Brasil é um deles.

Atualmente, por aqui, o recurso é usado mais para receber mensagens automáticas e códigos de segurança. Apesar disso, o autor do primeiro SMS acredita que ainda estamos longe de ele ter um fim.

“Algumas pessoas ainda preferem mandar SMS, outras se adaptaram ao Facebook Messenger, ou ao Instagram. Mas o SMS ainda faz parte desses recursos que a gente cresce e se acostuma, assim como o email”, conclui.

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