Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

“Sono fragmentado”: ficar acordado algumas horas pode combater ansiedade

Nos últimos dois anos, muitas pessoas desenvolveram rotinas de trabalho e descanso diferentes das que estavam acostumadas, devido às condições impostas pela pandemia de covid. Nesse contexto, o sono passou a ser algo fragmentado para muitas delas – uma mudança voluntária ou não, dados os níveis de estresse do período. E, sem saber, trouxeram de volta um ciclo natural que acredita-se ter sido o padrão do final da Idade Média até o início do século XIX no Ocidente.

Naquela época, muitas pessoas iam dormir assim que o sol se punha e acordavam três a quatro horas depois. Elas então socializavam, liam livros, faziam pequenas refeições e transavam por uma ou duas horas antes de voltar a dormir por mais três a quatro horas. Foi somente quando a luz artificial foi introduzida que as pessoas começaram a se forçar a dormir durante a noite, disse Roger Ekirch, professor de história da Virginia Tech e autor de “The Great Sleep Transformation” (A grande transformação do sono, sem tradução no Brasil).

Ekirch, que estudou o sono segmentado nos últimos 35 anos, disse que há mais de 2 mil referências ao tema em fontes literárias: tudo, de cartas a diários, registros judiciais, jornais, peças de teatro, romances e poesias, de Homero a Charles Dickens.

“O fenômeno recebeu nomes diferentes em lugares diferentes: primeiro e segundo sono, primeiro cochilo e sono profundo, sono noturno e sono matinal”, disse Benjamin Reiss, professor de inglês da Universidade Emory, na Geórgia, e autor de “Wild Nights: How Taming Sleep Created Our Restless World” (Noites selvagens: Como o sono domado criou nosso mundo inquieto, sem tradução no Brasil).

Segundo ele, não era uma escolha, mas algo que as pessoas faziam porque se encaixava nos padrões de trabalho agrícola e artesanal. Naquela época, além de ser um período útil para se conceber um bebê, o período de vigília também era considerado um horário nobre para tomar poções e remédios e para ajudar na digestão (dormia-se de um lado do corpo durante o primeiro sono e depois do outro lado durante o segundo sono), explicou Ekirch.

Não havia pressão para chegar à fábrica a tempo, pegar um trem ou mandar as crianças para a escola, já que a maior parte do trabalho era feito dentro ou perto de casa, disse Reiss. O sono não era governado pelo relógio, mas pelos ritmos da noite e do dia, bem como pelas mudanças das estações, acrescentou. Mas havia também motivos negativos para o sono segmentado.

Rotina “artificial”

Tudo mudou com a Revolução Industrial, enfatizando o lucro e a produtividade – a crença era de que as pessoas que limitavam o sono a um único intervalo tinham vantagem. E a crescente prevalência de luzes artificiais permitiu dormir mais tarde, levando à compressão do sono. Passadas algumas centenas de anos, nos acostumamos. Bem, alguns de nós, pelo menos.

Trinta por cento das pessoas relatam acordar durante a noite pelo menos três vezes por semana, de acordo com um estudo publicado em 2010 no Journal of Psychosomatic Research, e 25% dos adultos sofrem de insônia anualmente, de acordo com um estudo recente da Universidade da Pensilvânia. Para algumas pessoas, a pandemia estimulou horários mais flexíveis, o que levou a experimentos com o antiquado método de sono.

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