Sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Surras, choques elétricos e fome: os prisioneiros de guerra ucranianos que denunciam torturas na Rússia

Ex-prisioneiros de guerra ucranianos afirmam que foram submetidos a tortura, incluindo espancamentos frequentes e choques elétricos, durante custódia em um centro de detenção no sudoeste da Rússia, o que representaria sérias violações da legislação humanitária internacional.

Em entrevista à BBC, 12 ex-detentos libertados em trocas de prisioneiros alegaram abusos físicos e psicológicos por guardas e oficiais russos no Centro de Detenção Pré-Julgamento n° 2, na cidade russa de Taganrog.

Seus testemunhos foram reunidos ao longo de semanas de investigação e descrevem um padrão consistente de extrema violência e maus tratos no centro de detenção – um dos locais onde os prisioneiros de guerra da Ucrânia vêm sendo mantidos na Rússia.

Acusações

Segundo eles, homens e mulheres no centro de Taganrog sofrem surras repetidamente, chegando a atingir os rins e o peito, além de choques elétricos durante os interrogatórios e inspeções diárias. Os guardas russos ainda ameaçam e intimidam constantemente os detidos, alguns dos quais forneceram confissões falsas, que supostamente foram usadas em julgamento, como provas contra eles próprios. Os detidos estão constantemente subnutridos e os feridos não recebem assistência médica adequada. Há relatos de mortes de prisioneiros no centro de detenção.

A BBC não conseguiu verificar as acusações de forma independente, mas detalhes dos relatos foram compartilhados com grupos de defesa dos direitos humanos e, quando possível, confirmados por outros detentos.

Governo russo

O governo russo não permitiu que nenhum organismo internacional, incluindo as Nações Unidas e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, visitasse o centro de detenção. Antes da guerra, as instalações eram exclusivamente destinadas a prisioneiros russos.

O Ministério da Defesa da Rússia não respondeu a diversos pedidos de comentários sobre as acusações. Anteriormente, o órgão havia negado a prática de tortura ou maus tratos aos prisioneiros.

As trocas de prisioneiros entre a Ucrânia e a Rússia são uma rara vitória da diplomacia na guerra. Mais de 2,5 mil ucranianos foram libertados desde o início do conflito e acredita-se que até 10 mil prisioneiros permaneçam sob custódia russa, segundo grupos de defesa dos direitos humanos.

O porta-voz de defesa dos direitos humanos da Ucrânia e uma das autoridades envolvidas nas negociações de troca de prisioneiros com Moscou, Dmytro Lubinets, declarou que nove em cada 10 ex-prisioneiros afirmam terem sido torturados durante sua detenção na Rússia.

“Este, agora, é o maior desafio para mim: como proteger o nosso povo que está no lado russo”, afirma Lubinets. “Ninguém sabe o que pode ser feito.”

ONU

Em março, um relatório do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) afirmou que a Rússia “falhou ao garantir tratamento humano” dos prisioneiros, com “fortes padrões de violações”.

O porta-voz do alto-comissariado, Kris Janowski, afirmou que havia uma “longa lista de coisas ruins que foram feitas” para os prisioneiros no centro de detenção de Taganrog.

Segundo ele, o próprio fato de ser usada uma prisão para manter os detentos já é uma infração da legislação humanitária internacional, já que eles deveriam ser mantidos em locais especificamente designados.

A Ucrânia também enfrentou acusações de maus tratos de prisioneiros no relatório de março. Mas, de forma geral, eles receberam “melhor tratamento”.

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