Quarta-feira, 27 de novembro de 2024

“Tá com medo de ser preso”, disse o coronel após saber que Bolsonaro não havia assinado decreto golpista

Mensagem obtida pela Polícia Federal (PF) na investigação sobre uma tentativa de golpe no País mostra que um dos oficiais envolvidos na trama atribuiu ao “medo da prisão” o fato de o então presidente, Jair Bolsonaro, não ter assinado uma minuta golpista.

Em um áudio, o coronel do Exército Bernardo Romão Corrêa Neto diz a um interlocutor ter sido informado por Mauro Cid, na época ajudante de ordens do presidente, que Bolsonaro não iria assinar o documento que previa intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e prisão do ministro Alexandre de Moraes.

“Só faria se tivesse o apoio das FORÇAS ARMADAS… porque ele tá com medo de ser preso. (…)”, aponta o relatório da PF sobre áudio enviado por Corrêa Neto.

Corrêa Netto é apontado pela PF como o organizador de uma reunião de oficiais das Forças Especiais do Exército para discutir a trama golpista em 28 de novembro de 2022 , quase um mês após o segundo turno das eleições presidenciais. Na época, o coronel era assistente do Comando Militar do Sul e apontado como homem de confiança do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ambos também alvos da apuração.

O áudio foi enviado no dia 21 de dezembro de 2022 para coronel Fabrício Moreira Bastos, que era adido em Tel Aviv, Israel, até novembro deste ano.

Ao indiciar o ex-chefe do Palácio do Planalto no caso, os investigadores afirmam que ele “efetivamente planejou, dirigiu e executou atos concretos que objetivavam a abolição do Estado Democrático”.

A conclusão dos agentes da PF é que o golpe só não se consumou por “circunstâncias alheias” à vontade de Bolsonaro, como a resistência do então comandante do Exército, general Freire Gomes, e à maioria dos integrantes do Alto Comando da Força, formada por 16 generais de quatro estrelas. A maioria do Alto Comando “permaneceu fiel à defesa do Estado democrático de direito, não dando o suporte armado para que o presidente da República consumasse o golpe de Estado”, diz trecho do relatório da investigação.

O relatório da Polícia Federal aponta ainda que o plano para matar o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes foi cancelado após a cúpula do Exército se negar a aderir à tentativa de golpe.

“Apesar de todas as pressões realizadas, o general Freire Gomes e a maioria do alto comando do Exército mantiveram a posição institucional, não aderindo ao golpe de Estado. Tal fato não gerou confiança suficiente para o grupo criminoso avançar na consumação do ato final e, por isso, o então presidente da República Jair Bolsonaro, apesar de estar com o decreto pronto, não o assinou. Com isso, a ação clandestina para prender/executar ministro Alexandre de Moraes foi abortada”, diz o relatório.

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