Segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 2 de outubro de 2022
O inédito teste para “salvar a Terra” orquestrado pela Nasa no começo da semana foi acompanhado, em tempo real, por cientistas e curiosos de vários cantos do mundo e também por dois grandes observatórios da agência espacial americana: os telescópios James Webb e Hubble. Na semana passada foram divulgadas as primeiras imagens feitas pelos equipamentos — que, pela primeira vez, observaram simultaneamente um mesmo alvo celeste. Elas sinalizam que o impacto pode ter sido maior do que o previsto, o que reforça a expectativa de que a missão teve o seu objetivo alcançado.
O Double Asteroid Redirection Test (DART) foi lançado em novembro passado para se colidir com Dimorphos a 11 milhões de quilômetros de distância da Terra e, com o choque, mudar a rota do asteroide. A colisão ocorreu conforme o planejado. Agora, dados colhidos pelos telescópios vão ajudar a equipe a concluir se o desvio aconteceu. Segundo Ian Carnelli, da Agência Espacial Europeia (ESA), as fotografias retratam um impacto aparentemente “muito maior que o esperado”.
“Eu realmente fiquei preocupado que não restasse nada do Dimorphos”, admitiu Carnelli à agência France-Presse de notícias. A ESA lançará a missão Hera, prevista para outubro de 2024, para chegar ao asteroide em 2026 e avaliar a cratera. A previsão era de que ela tivesse aproximadamente 10m de diâmetro. Carnelli conta que, com as imagens feitas pelos telescópios, os planos mudaram. “Parece que será muito maior se houver uma cratera. Talvez, uma parte do Dimorphos tenha sido cortada”, cogita.
DART, que tinha o tamanho de um carro de passeio, colidiu, na segunda-feira (26), com o asteroide de 160m de diâmetro, o equivalente a quatro Cristos Redentor, a uma velocidade superior a 20.000km/h. Dimorphos estava a um quilômetro do asteroide Didymos, com 780m, e o orbita em 11 horas e 55 minutos. A expectativa é de que, com o choque, esse tempo seja reduzido em 10 minutos.
É provável que os telescópios e radares ligados à Terra levem pelo menos uma semana para uma primeira estimativa de quanto a órbita do asteroide foi alterada. Para uma medição precisa, Carnelli diz que o prazo é de três ou quatro semanas. “Estou esperando uma deflexão muito maior do que planejamos”, confessa o gerente de projetos da missão Hera.
Astrônomo da Queen’s Universisty Belfast, Alan Fitzsimmons afirma que, mesmo se nenhuma matéria tivesse sido “arremessada para fora” do Dimorphos, o DART teria afetado levemente sua órbita. “Mas quanto mais matéria e quanto mais rápido estiver se movendo, maior será a deflexão”, explica.
Dados diversos
Segundo a Nasa, as imagens feitas pelos telescópios mostraram uma vasta nuvem de poeira expandindo para fora do Dimorphos e Didymos. Em comunicado, a agência relata que o Webb fez cinco horas de registro e capturou 10 imagens. Uma delas mostra “plumas de material aparecendo como mechas saindo do centro de onde ocorreu o impacto”. “Essa é uma visão sem precedentes de um evento sem precedentes”, resumiu Andy Rivkin, líder da equipe de investigação da DART na Universidade Johns Hopkins em Laurel.
As imagens do Hubble — de 22 minutos, cinco e oito horas após a colisão inédita — mostram o spray de matéria em expansão do lugar onde DART bateu. “Quando vi os dados, fiquei literalmente sem palavras, atordoado com o incrível detalhe do material ejetado que o Hubble capturou”, disse Jian-Yang Li do Instituto de Ciências Planetárias em Tucson, Arizona, que liderou as observações do telescópio.
Os equipamentos capturaram o impacto em diferentes comprimentos de onda de luz — Webb em infravermelho e Hubble em visível. Essa diversidade de dados permitirá que os cientistas tenham acesso a detalhes do impacto, como a distribuição dos tamanhos das partículas na nuvem de poeira e se foram lançados pedaços grandes do corpo rochoso ou partículas finas.