Sábado, 28 de dezembro de 2024

Trabalho voluntário favorece a inteligência emocional

Brumadinho, pandemia, deslizamento de terra em Petrópolis. Nos últimos anos, tivemos que exercitar como nunca a solidariedade e nos valer de competências básicas como o cuidado com o próximo, o cultivo das relações, a resiliência, o trabalho em grupo. Vimos incansáveis imagens de pessoas que, de maneira voluntária, arriscaram suas próprias vidas para levar proteção, alimentos, produtos de higiene e atendimento médico àqueles que precisam.

Quando olhamos sob a ótica do comportamento humano, essas grandes tragédias e a desigualdade social que vivemos chamam atenção para a importância do voluntariado como uma forma de desenvolvimento da inteligência emocional e de exercício da cidadania. Isso porque, ao contribuir para melhorar ou transformar a vida de uma comunidade, lidamos com problemas críticos, enfrentamos barreiras, dificuldades e aprendemos a transformar indignação em ação. Vivenciamos na prática a diversidade e entendemos o real conceito de responsabilidade social.

Levada pelo meu pai, fiz meu primeiro trabalho voluntário aos 17 anos no hospital A.C. Camargo, entidade com a qual tenho vínculo até hoje. Na época, quando eu era estudante de psicologia, o hospital oferecia um curso de voluntariado em que médicos especialistas nos davam consciência não somente da doença, mas do sofrimento psicológico dos doentes.

Me lembro que eu passava no A.C. Camargo boa parte do meu tempo livre. Participei muito dos encontros quase diários que dona Carmen Prudente, esposa do fundador do hospital, fazia com as crianças que estavam em tratamento de câncer, para quem ela contava histórias.

Foi naquele período em que consegui, pela primeira vez, organizar meus sentimentos e entender a importância de apoiar o outro em situações de extrema criticidade. Descobri, ali, a essência do trabalho voluntário, que é ajudar o próximo e contribuir para a melhoria da sociedade sem esperar nada em troca.

Hoje, tenho total clareza de que, além de colaborar para a construção de uma sociedade mais justa e nos tornar melhores seres humanos, o voluntariado nos torna também melhores profissionais. Esse tipo de atividade aumenta o grau de socialização, melhora as competências para o trabalho em equipe, amplia a troca de experiências e o networking, estimula a criatividade, aumenta a autoestima e a satisfação pessoal e contribui para que os indivíduos lidem melhor com novos desafios em contextos adversos. Treina cidadania, condição que deve ser primordial neste mundo que prega por maior diversidade, inclusão e equidade.

Nessas atividades aprendemos o tal do trabalho em colegiado, já que ali somos todos iguais – na maior parte das vezes, ninguém é chefe de ninguém, e todos ali têm especialidades ou competências diferentes. Outro aspecto interessante é que o voluntariado também nos permite atuar em setores que aparentemente não estariam em nosso radar profissional, como por exemplo um hospital infantil, uma ONG ou um projeto comunitário. Ele pode proporcionar ainda o aprendizado na prática de habilidades específicas como planejamento, gestão e captação de recursos. Ou seja, os ganhos são incontáveis tanto para a sociedade como também para nós como indivíduos.

Mais do que isso, participar de ações sociais nos ajuda a gerir melhor nossas emoções e nos faz perceber com maior clareza a dor e as alegrias do outro. Ser voluntário é exercer de forma genuína a empatia e pensar o tempo todo em um ambiente de colaboração, atitudes mais do que necessárias em nossas relações pessoais e profissionais.

Sei que ainda somos pegos muitas vezes pela desculpa da falta de tempo antes de nos envolver em projetos ou causas sociais. Mas me pergunto se é realmente falta de tempo ou apenas de priorização daquilo que queremos fazer com o nosso tempo.

Nossa sociedade está precisando urgentemente de ajuda. E, acredite, quando ajudamos ao próximo estamos também fazendo um bem enorme a nós mesmos.

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