Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 8 de junho de 2023
O Brasil enfrenta atualmente uma inescapável agenda de mudanças, tornada urgente pela velocidade com que se sucedem as transformações no ambiente de competição econômica no planeta. Ficar de fora desse processo pode comprometer qualquer ambição futura em relação às pretensões nacionais de inserção competitiva na economia mundial. Nesse sentido, é necessário reconhecer que, em paralelo às nossas já conhecidas mazelas, temos também bons modelos a nos inspirar. Um desses exemplos é o agronegócio brasileiro, com números exuberantes nas últimas décadas, recordes de produtividade, eficiência, inovação e abertura de novos mercados.
Em sentido contrário, o mesmo não se pode falar da indústria, setor da economia que vem perdendo relevância em porcentuais alarmantes. A manufatura, que representava 34% do PIB brasileiro em 1984, despencou para somente 10% em 2021, numa fotografia assustadora e que reclama bem mais do que lamentos. A boa notícia é que podemos aproveitar o sucesso do agronegócio como um caminho para que a indústria nacional recupere maior protagonismo, além da coragem necessária do Governo para enfrentar os desafios que se interpõem, dentre eles nossa crônica incapacidade de planejar e executar projetos com visão de médio e longo prazos.
Nosso último grande movimento de ajuste estrutural na economia, já data quase meio século. O PND II, assim chamado o plano criado pelo Governo no final de 1974, mesmo não obtendo pleno êxito, permitiu ao País dominar todo o ciclo produtivo industrial. De lá para cá, entretanto, os erros nas políticas econômicas voltadas ao setor industrial conjugaram práticas protecionistas, custo Brasil e privilégios setoriais e tributários que isolaram setores inteiros de maior competição e impediram crescimento em linha com o resto do mundo. De maneira oposta ao enfraquecimento gradual do nosso setor industrial, o agronegócio, impulsionado por inovação, crédito e empreendedorismo, além de outros fatores, aumentou exponencialmente sua produtividade, gerando importante aprendizado para os demais setores da economia.
Embora tenhamos a merecida fama de planejarmos mal e executarmos pior ainda, vivendo de espasmos de crescimento mais do que de estratégias deliberadas, não podemos dizer que isso ocorre por falta de alternativas conceituais disponíveis. Uma das teorias mais respeitadas é trazida pelo emérito professor de Harvard, Michael Porter. Ele enfatiza que a competitividade de um país não é determinada apenas por vantagens naturais, mas também por políticas públicas e escolhas estratégicas. Os governos desempenham um papel crucial na criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento da competitividade, por meio de políticas que promovam a educação, a inovação, a infraestrutura e o ambiente de negócios, como bem se apropriou o agronegócio brasileiro.
Resumidamente, existem quatro determinantes principais da competitividade de uma indústria nacional: condições de fatores, como mão de obra, infraestrutura, capital, recursos naturais e conhecimento técnico; condições de demanda: a existência de uma demanda sofisticada e exigente para incentivar as empresas locais a inovar e melhorar seus produtos e serviços para atender a essas necessidades; setores relacionados e de apoio: fornecedores, indústrias complementares e instituições de pesquisa e treinamento; estratégia, estrutura e rivalidade das empresas: a rivalidade entre empresas que estimula a inovação e a busca por eficiência.
Mesmo com a manufatura retrocedendo em nosso País, o sucesso do agronegócio sinaliza que existem soluções aqui geradas e que podem ser um farol para a indústria. Fugir da improvisação, da descontinuidade e ausência de foco é possível, desde que haja a disposição para construir caminhos alicerçados em bons fundamentos. O Brasil detém a maioria dos fatores elencados como essenciais pelo “Modelo Diamante”, de Porter, mas é preciso que tenhamos também vontade política e forte engajamento das lideranças setoriais para trilhar esse futuro de gigantescos desafios.