Domingo, 10 de novembro de 2024

Usando apenas trens e seus pés, saiba como explorar vilarejos e bosques pertinho de Londres

Quando andar em círculos é bom? Quando o leva a conhecer vilarejos, florestas e campos através de trilhas de acesso livre que começam e terminam na mesma estação de trem. O Reino Unido é conhecido como um país de caminhantes, com milhares de quilômetros de veredas e carreiras para cavalos abertas ao público (a Escócia, por exemplo, tem até uma lei conhecida como “o direito de perambular”).

Na verdade, até observar a caminhada dos outros virou parte da cultura popular, inclusive com programas em horário nobre de celebridades solitárias registrando a paisagem rural com câmeras de celular de alta definição ou grupos em peregrinação religiosa em Portugal ou na Espanha – mas, mesmo em Londres, o que não falta são oportunidades para quem quiser dar uma fugida da cidade.

É possível escapar do barulho e da muvuca urbana para ver “os pastos verdejantes” do poeta William Blake sem precisar ter ou alugar um carro; dirigir na mão inglesa; ou tentar me dar bem no caos das rotatórias. Como? Seguindo os mapas e o texto do guia “The Home Counties From London by Train: Outstanding Circular Walks” (12,99 libras ou cerca de R$ 81, Milestone Publishing).

Parte de uma série produzida pela parceria entre a Pathfinder Guides e a Ordnance Survey (a agência nacional britânica de mapeamento), o livro, levinho, descreve em detalhes 27 roteiros de graus de dificuldade diversos, variando na distância entre pouco mais de três e quase 20 quilômetros, todos começando depois de um percurso relativamente curto de trem a partir de uma das principais estações de Londres. (Embora grande parte do terreno não seja adequado para os deficientes físicos, a Pathfinder acrescentou recentemente a primeira série de trilhas acessíveis em superfícies mais duras em “Lake District and Cumbria: Accessible Walks for All”, com 38 rotas, das quais 20 são consideradas circulares.)

“É uma rede que existe porque as pessoas precisavam se deslocar de um ponto a outro, tipo sair de uma fazenda para ir até o vilarejo, ou de lá até a cidade, e claro que, na época, era tudo feito a pé. Muitas trilhas de hoje se baseiam nessas, mais antigas, que muitas vezes chegam a ter centenas de anos”, explica Kevin Freeborn, editor da série de guias.

Todas as opções listadas no livro podem ser feitas em um único dia, ou dois, para quem preferir um ritmo mais sossegado. Na verdade, o tempo necessário para o percurso vai depender só da velocidade da pessoa e das eventuais paradas – em um pub para aquela cervejinha, ou no banco à margem do riacho para um piquenique.

Por exemplo, uma hora e dez minutos depois de sair da estação da Liverpool Street rumo a Manningtree, no condado de Essex, você chega ao ponto de partida para a descoberta da paisagem do Vale Stour, o mesmo que inspirou John Constable, pintor paisagista da virada do século XVIII para o XIX. Com 12 quilômetros de extensão, que podem ser percorridos em aproximadamente três horas e meia, a trilha atravessa o vilarejo de Dedham, que já foi um centro têxtil próspero, e onde o artista estudou.

Dependendo da estação do ano, você pode ver prímulas de cinco pétalas nas cercas banhadas pelo sol, primaveras cobrindo os campos onde as ovelhas pastam, belas anêmonas de madeira brancas e até orquídeas. No circuito de quatro horas, ou 13,5 quilômetros a partir de Limpsfield, em Surrey (a meia hora da estação da London Bridge), famoso pelo tapete de jacintos perfumados que se vê no fim da primavera, os observadores de pássaros têm a oportunidade de ouvir o canto dos rouxinóis e ver os falcões voando em círculos no céu.

Um dos circuitos mais exigentes começa em Wye, a cerca de uma hora de viagem a partir da estação St. Pancras, e compreende 15 quilômetros. Alcança uma altitude de 325 metros, que podem ser percorridos em quatro horas e meia através de bosques, passa por uma igreja normanda e sobe o Crundale Downs, grupo de morros de calcário próximo ao vilarejo de Crundale.

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