Sábado, 16 de novembro de 2024

Vacinas no lixo: governo poderia comprar ambulâncias e milhões de doses de insulina com R$ 1,7 bilhão em imunizantes vencidos

Dados do Ministério da Saúde apontam que o valor perdido com as vacinas inutilizadas em 2023 e ao longo deste ano foi de R$ 1,75 bilhão, um recorde desde os quatro anos do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, quando o prejuízo acumulado foi de R$ 1,96 bilhão.

A quantia jogada no lixo nos últimos dois anos seria suficiente, por exemplo, para adquirir 6 mil ambulâncias do padrão utilizado pelo Samu (R$ 276 mil cada unidade) ou 101 milhões de canetas de insulina, que ficaram em falta em postos de saúde do País no primeiro semestre. O Ministério da Saúde atribui parte das perdas a doses recebidas da administração passada.

Para evitar novos desperdícios, o Ministério da Saúde informou ter adotado inovações no processo de distribuição dos imunizantes, “como a entrega parcelada por parte do laboratório contratado e possibilidade de troca pela versão mais atual aprovada pela Anvisa”.

A maior parte das perdas de vacinas ocorreu em 2023, com 39,8 milhões inutilizadas, somando prejuízo de R$ 1,17 bilhão, enquanto de janeiro deste ano até agora foram mais 18,8 milhões sem uso, o que já custou R$ 560,6 milhões aos cofres públicos.

O Ministério da Saúde afirmou ter encontrado imunizantes contra Covid-19 já com prazo expirado ao assumir. “As vacinas vencidas em 2023 foram reflexo de estoques herdados da gestão anterior e campanhas sistemáticas de desinformação que geram desconfiança sobre a eficácia e segurança do imunizante, impactando na adesão da população”, afirma a pasta, em nota.

Além do número maior de vacinas perdidas, proporcionalmente a atual gestão desperdiçou mais doses do que utilizou. Boa parte das 58 milhões de ampolas de vacinas perdidas tinham mais de uma dose de imunizante. No total, foram 217 milhões de aplicações desde o ano passado. Ao mesmo tempo, outras 385 milhões tiveram que ser descartadas, 176% a mais.

Já no governo Bolsonaro, que adotou um discurso negacionista em relação às vacinas e resistiu a comprar imunizantes no início da pandemia, essa proporção foi de 150%, com 575 milhões de doses vencidas, ante 384 milhões usadas. Cada unidade de vacina pode contemplar mais de uma dose, a depender da indicação do fabricante. Um frasco do imunizante contra Covid-19 da Pfizer, por exemplo, possui 10 doses na sua versão pediátrica e seis na adulta.

As vacinas contra Covid-19 respondem por três de cada quatro das que foram descartadas neste. Enquanto isso, 80,62% da população não tomou a segunda dose de reforço contra a doença. Presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia, a médica Margareth Dalcolmo aponta que lotes recebidos perto do vencimento e a baixa procura da população pelas vacinas são fatores que levaram às perdas dos imunizantes.

“Tivemos uma baixa adesão, inclusive de Covid-19, que foi um desastre. Esse fluxo de vacina é muito lento. A logística é muito complexa”, afirmou Dalcolmo, escolhida pelo governo Lula como embaixadora da imunização no País.

O desperdício, porém, não se restringe às vacinas contra Covid. Outros imunizantes também foram descartados, como o DTP (16,5% do total fora da validade) — contra difteria, tétano e coqueluche — febre amarela (3,5%), e meningocócica (1,8%).

 

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