Sexta-feira, 22 de novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 20 de setembro de 2024
O Comitê de Política Monetária (Copom) deve aumentar o ritmo de alta da taxa básica de juros para 0,50 ponto porcentual na próxima reunião, em novembro, avalia o superintendente de Pesquisa Econômica do Itaú, Fernando Gonçalves. “Pode perfeitamente ter um quadro em que a inflação não necessariamente precisa estar tão alta para acelerar para um ritmo de (alta) 0,50 ponto”, afirma Gonçalves. O banco projeta que a Selic deve encerrar este ano em 11,75% e ir a 12% em janeiro de 2025.
1) Como avalia a decisão do Copom de subir os juros?
(A decisão) Veio em linha com o que a gente esperava. Esperávamos uma alta de 0,25 ponto porcentual, e projetamos uma aceleração de 0,50 ponto na próxima reunião. O comunicado não cravou o ritmo para a próxima reunião e colocou uma projeção de inflação de 3,5% no horizonte relevante, o que, para nós, indica um ciclo de alta de 150 pontos base (1,5 ponto porcentual). No comunicado, o comitê também menciona um hiato do produto, agora, positivo e diz que vai monitorar o comportamento do hiato para decidir os próximos passos de política monetária, junto com outras variáveis que costuma olhar como, por exemplo, inflação, especialmente os componentes mais ligados à atividade econômica, expectativa de inflação, o balanço de riscos e a própria projeção dele.
2) E o que isso significa?
Pode perfeitamente ter um quadro em que a inflação não necessariamente precisa estar tão alta para acelerar para um ritmo de 0,50 ponto se tiver um hiato do produto (medida para identificar se a atividade econômica pressiona a inflação) mostrando uma atividade econômica mais acelerada. O comunicado indica que o próximo movimento deve ser de 0,50 ponto, a não ser que alguma coisa mude de forma muito substancial. Essa aceleração, a gente já tinha no nosso cenário. Não vamos mudar.
3) Na última revisão de cenário, o Itaú passou a prever que a Selic alcançará 12% ao ano em janeiro de 2025. Poderia detalhar quais fatores levaram o banco a aumentar a projeção para a taxa básica de juros?
A atividade econômica está mais forte do que se imaginava. Temos números fortes de consumo, investimentos, além dos gastos do governo. O crescimento está acima do potencial e, claro, existe uma discussão importante sobre a aceleração do potencial no Brasil, dadas as reformas recentes. Um termômetro muito importante que sugere que, de fato, estamos crescendo acima do potencial é a inflação em si. A desancoragem das expectativas também piorou. É algo que dificulta a convergência da inflação. A taxa de desemprego está cerca de dois pontos abaixo do que seria o razoável imaginar. Isso pressiona salários, pressiona a inflação. Por todos os lugares que você olha, fica bem claro que o juro no nível que está não está sendo suficiente para controlar a inflação.
4) Por que a atividade vem surpreendendo?
Acho que existem razões para imaginar que o PIB potencial é maior do que costumava ser. Houve reformas importantes, como a trabalhista, e marcos regulatórios, como, por exemplo, do saneamento, que colocam uma perspectiva de muito investimento adiante. Claramente, temos sinais de um PIB acima do que seria esse PIB potencial pela inflação e pela aceleração das importações recentes. A dúvida que fica é a seguinte: como pode estar uma atividade econômica tão acelerada com juros que já são bastante altos? Eu acho que o principal suspeito são os estímulos do governo.
5) Esse estímulo do governo preocupa, dada a incerteza com o cenário fiscal?
Sim, o quadro preocupa. O arcabouço fiscal não tem sido capaz de conter o crescimento dos gastos. Eu acho que há uma premissa importante no arcabouço fiscal de recomposição de receitas que estariam baixas em relação a outros momentos. Portanto, há uma ênfase em medidas arrecadatórias.
6) E como fica o BC para tentar levar a inflação para a meta de 3% com o fiscal tão desajeitado?
O Banco Central está focado na sua missão de entregar a meta de 3%. Só que está fazendo isso num ambiente de bastante estímulo. Não é à toa que a gente, agora, discute a alta de juros a partir de um juro que já está bastante alto. Esse desequilíbrio entre estímulos fiscais e contração monetária acaba produzindo um ambiente de juros elevados.
7 ) Em relação ao Fed, o banco esperava um corte de 0,25, mas a decisão foi por uma redução de 0,50 ponto. Como avalia?
Nós esperávamos 0,25 ponto (porcentual) e veio (um corte de) 0,50. Isso demonstra uma preferência por fazer um corte que dê uma espécie de seguro para a economia americana. Acabou sendo uma preferência do banco central americano de começar com cortes maiores. A gente acha que a economia americana segue resiliente. E, para a próxima reunião, dá para afirmar novamente que caberia um corte de 0,25 (ponto porcentual).