Quinta-feira, 09 de janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 8 de janeiro de 2025
O acirramento do conflito entre a China e os Estados Unidos sob comando do presidente eleito, Donald Trump, deve deflagrar uma reação em cadeia em que “todo mundo taxa todo mundo”, o que pode resultar em alta de preços em bens industriais e encarecer as importações brasileiras. Um efeito diverso, no qual o conflito fique mais contido às relações sino-americanas, é improvável. Já nas commodities, que dominam a exportação do Brasil rumo à China, os efeitos são mais difíceis de se prever e dependerão de choques mais específicos, mas é possível que a venda de soja e milho brasileiros ao país asiático seja favorecida, como aconteceu no mandato anterior de Trump. O petróleo também pode ser afetado, via preços, com a promessa de Trump de elevar a produção americana da commodity.
A avaliação é do economista Livio Ribeiro, sócio da BRCG e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Há também expectativas de como a China irá reagir a Trump. Pequim já tem “flexionado os músculos”, diz.
Outro ponto importante é o desempenho da segunda maior economia do mundo em 2025. As metas oficiais de crescimento devem ser divulgadas só em março, mas as diretrizes disponíveis mostram mudanças na política econômica, aponta. Pequim tornou prioritário o estímulo ao consumo doméstico, que deve ter “vigoroso apoio”, o que se harmoniza com a orientação “uma política monetária moderadamente expansionista” e “política fiscal proativa”, diz, acrescentando que “haverá um momento de muita indefinição, pelo menos até metade de 2025″.
Exportações brasileiras
“Se não houver choque específico no que vendemos à China, como soja, milho, minério de ferro, petróleo, proteína animal, devemos continuar mais ou menos como estamos. Em princípio, o que mais pode sofrer no curto prazo é petróleo, via preço, com a agenda do Trump de produzir mais. Temos exportado muito petróleo na margem para a China. Só que a China tem ligação próxima com Rússia e países do Oriente Médio. Então, o perigo é o Brasil ser deslocado por questão geopolítica. Como nossa pauta não é de bem industrial, não vejo espaço para o exportador se preocupar. Em 2018 e 2019, quando o conflito com a China ficou mais evidente, as exportações brasileiras de grãos para os chineses aumentaram. Esse espaço pode se abrir novamente ao Brasil. Já a demanda por minério de ferro passou do pico. Não devemos ter grandes acelerações de volume. O debate está mais nos preços. E esse mercado tem um grande comprador de um lado contra um oligopólio. São dois lados com poder de barganha”.
China versus EUA
A China passou o fim de 2024 flexionando os músculos. Haverá medidas calibradas em função dos desafios e da pressão de Trump e do mundo. Há uma briga de foice com os EUA e a China já começou a se mexer. Ela restringiu exportações de alguns componentes críticos para drones em dezembro e colocou a Nvidia, fabricante americana de processadores, em avaliação de lei antitruste chinesa. O cenário padrão de toda guerra comercial é o da reação em cadeia, com todo mundo taxando todo mundo ao fim, o que levará os preços de bens industriais, de “tradeables”, para cima, no cenário mais provável.
As importações do Brasil ficam mais caras. Para as commodities é difícil saber. Haverá um momento de muita indefinição, pelo menos até metade de 2025. Teremos aquele momento de bater no tabuleiro e as peças pularem. Há um cenário que não é provável, em que a taxação fica muito mais circunscrita à relação bilateral EUA-China, estendendo às áreas de influência respectivas, como o bloco formado com México e Canadá e o sudeste asiático. Nesse cenário, se o resto do mundo se coordenar, haveria sobreoferta de bens industriais chineses e os preços poderiam cair. É um cenário improvável, embora possível. Com informações do Valor Econômico.