Segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 27 de abril de 2024
Na semana que passou, turistas visitando Veneza (Itália) por apenas um dia, sem pernoitar, tiveram, pela primeira vez, que pagar uma taxa de 5 euros (R$ 27,69) ou arriscar levar uma multa de até 300 euros (R$ 1.661,14).
O sistema, cuja adoção tem sido adiada há vários anos, será testado até o final deste mês e em outros 23 dias ao longo de maio, junho e julho deste ano, num experimento da prefeitura para combater os problemas ocasionados pelo turismo de massa.
“Em princípio, é uma boa ideia”, afirma Susanne Kunz-Saponaro, que mora e trabalha como guia turística na cidade do norte italiano. “Mas parece que não pensaram a coisa até o fim.”
Por um lado, há uma longa lista de exceções ao sistema que diluem seu efeito, como as isenções para moradores de toda a região de Veneza e menores de 14 anos. Além do mais, ainda não está claro como a cidade dará conta de fiscalizar todos os excursionistas, que têm que baixar um QR Code no site cda.ve.it. A prefeitura afirma que fiscais estarão circulando e fazendo controles aleatórios. Quem for pego sem o comprovante de pagamento da taxa pode acabar multado.
Mas a guia Saponaro considera especialmente problemático o fato de não se ter também introduzido logo um limite para o número de visitantes: diariamente chegam cerca de 80 mil ao centro histórico, dos quais 70 mil só pretendem passar algumas horas, gastando bem pouco, mas contribuindo bastante para a superlotação.
Do mesmo que outros imãs turísticos europeus, há bastante tempo a municipalidade veneziana tenta combater ao menos as consequências mais graves do turismo de massa – como quando proibiu os grandes cruzeiros de aportarem no centro, em 2021. “Nós convidamos os que querem visitar a nossa cidade a vivenciar Veneza com vagar e a se deixar absorver por ela”, propõe a encarregada de turismo Simone Venturini.
E isso não é possível em três horas, “é preciso se permitir o tempo necessário”. A taxa de ingresso visa estimular o turismo de pernoite. Como essa iniciativa da cidade dos canais é pioneira no mundo, certamente será preciso fazer ajustes quando chegarem as primeiras avaliações, explica Venturini.
Recentemente, o prefeito Luigi Brugnaro frisou, em entrevista ao jornal Corriere della Sera, que Veneza segue acessível e aberta, e não pretende impor limite ao número de visitantes de um dia. Ele considera possível que a taxa de ingresso vá ter um efeito dissuasivo.
“A cidade precisa ser adequada tanto para os que vivem nela como para os que a visitam”, argumenta Brugnaro. “Em certos dias de afluxo especialmente alto, há o perigo de que isso não ocorra.”
Antes da pandemia de covid, Veneza recebia 5 milhões de turistas por ano, e em 2024 se deverá chegar a uma cifra comparável. Entre eles, há sempre aqueles que não mantêm o devido respeito, reclamam moradores e políticos. Por isso, nos últimos anos a prefeitura endureceu cada vez mais as regras para os visitantes.
Sob o slogan Enjoy Respect Venezia, o site www.enjoyrespectvenezia.it traz todo um catálogo de regras de conduta. É proibido, por exemplo, se instalar nas pontes e escadas, mergulhar nos canais, circular de trajes de banho pela cidade, alimentar os pombos ou jogar lixo no chão. As multas podem chegar a 500 euros (R$ 2768,56), mas o departamento de imprensa não informa o total arrecadado pela prefeitura.
Grupos turísticos
Quanto à nova taxa de ingresso, conta-se com a arrecadação de cerca de 700 mil euros no primeiro ano (R$ 3,87 milhões), a serem investidos na limpeza urbana e melhoria das ofertas turísticas – como já ocorre com a taxa de pernoite. Aplicada desde 2011, ela vai de um a cinco euros por noite, dependendo da categoria do hotel e da temporada. Em 2023, rendeu a Veneza 34 milhões de euros (R$ 188,26 milhões).
A partir de 1º de agosto, além disso, entram em vigor novas regras para os giros turísticos pela cidade. Cada grupo não poderá contar mais de 25 participantes, que não deverão obstruir o trânsito de pedestres enquanto escutam as explicações dos guias.
Na opinião de Susanne Kunz-Saponaro, a norma deveria ir mais longe, restringindo os grupos a 20 visitantes; ela própria trabalha com grupos menores. “É claro que o turismo é importante para Veneza”, reconhece. Mas não pode ser tudo uma questão de dinheiro: “As pessoas que vivem aqui na cidade também precisam poder conviver com o turismo.”