Segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Virgindade: o mito do hímen rompido que persiste no século 21 sem base científica

A virgindade é uma farsa. Quem afirma são as médicas e escritoras norueguesas Ellen Støkken Dahl e Nina Dølvik Brochmann, que, equipadas com um bambolê forrado com um fino filme de plástico transparente, propuseram-se a explicar a questão à sua audiência.

Brochmann segura o bambolê no ar e Dahl o rompe com um potente golpe. A cena, apresentada durante uma palestra TED em Oslo, na Noruega, ilustra de forma contundente uma ideia com a qual a maioria de nós crescemos: que, na primeira vez que uma mulher tem relação sexual vaginal, o hímen se rompe e, por isso, ela sangra. E, nesse momento, perde-se a virgindade.

Dahl e Brochmann são autoras de um livro publicado no Brasil com o título “Viva a Vagina – Tudo que você sempre quis saber”. A palestra ocorreu em 2017 e o fato de que a relação sexual vaginal não causa alterações ao hímen é reconhecido pela ciência médica há mais de 100 anos.

Conceito

Mas a ideia de que essa parte do corpo feminino pode revelar sua história sexual continua predominando na nossa sociedade.

“Na cultura popular atual, existem muitos exemplos do mito do hímen – na televisão e em livros. Ainda se acredita que a maioria das mulheres sangra na primeira relação sexual e que é possível observar uma diferença entre as mulheres que são virgens e as que não são”, declarou Dahl à BBC News Mundo (o serviço em espanhol da BBC).

“É muito prático acreditar que a natureza nos forneceu uma espécie de teste de virgindade no corpo feminino, se a sua intenção for controlar a sexualidade das mulheres”, acrescenta ela.

E, embora a ONU e a OMS considerem que os testes de virgindade (ou seja, um exame vaginal para verificar se o hímen está “intacto”) são uma violação dos direitos humanos, defendendo sua proibição, esses testes continuam sendo praticados em mais de 20 países (incluindo o Reino Unido e os EUA), bem como a himenoplastia – um procedimento cirúrgico que oferece a “reparação do hímen”, mesmo que ele não esteja rompido.

Orifício elástico

Mas, então, como é realmente o hímen e o que acontece na verdade após a primeira relação sexual?

Longe de ser uma membrana delicada que cobre a entrada da vagina, “o hímen parece-se mais com um elástico para prender o cabelo ou uma goma elástica”, explica Brochmann no vídeo da palestra TED, que soma vários milhões de visualizações nas diversas plataformas.

Em linhas gerais, sua forma é similar a uma rosquinha, com um grande orifício no meio. É também uma estrutura hiperelástica, capaz de acomodar o pênis sem sofrer danos.

“O hímen é geralmente composto de pedacinhos de carne – chamados de carúnculas himenais – com grandes diferenças entre uma mulher e outra. Podem ser dois ou três pedaços maiores, ou quatro a cinco pedaços menores, como pequenas linguetas ou pétalas, da mesma cor da mucosa da vagina”, explica Marta Torrón, fisioterapeuta do assoalho pélvico e especialista em fisiossexologia, que dedica grande parte do seu trabalho à divulgação científica.

“Por isso, como são da mesma cor (e porque não estamos acostumadas a olhar para a vulva e a vagina), as mulheres não sabem que esses pedaços de carne são o hímen, que estará ali por toda a sua vida.” Ou seja, “o hímen não é uma membrana fechada que é rompida e desaparece (após a penetração). Em 99% dos casos, o hímen está aberto e este é o normal”, segundo a fisioterapeuta espanhola.

E, se não estivesse aberto, seria um caso de “hímen sem perfuração, que é considerado uma má formação e necessita de intervenção, caso contrário o fluxo da menstruação não poderá sair e, claro, não poderá haver relação sexual vaginal”, explica Torrón.

A aparência do hímen pode ser tão variada quanto a do clitóris, da vulva ou de qualquer outra parte do corpo da mulher. Basicamente, não existe nada no seu aspecto que revele que houve ou não relação sexual vaginal, como acabamos acreditando, de tanto ouvir repetidamente.

Portanto, não existe nenhum procedimento médico que permita determinar se uma mulher teve sexo vaginal ou não. “Ao longo de todos esses anos, já vi milhares de mulheres, milhares de vaginas. E, na maioria dos casos, você não consegue saber se elas tiveram sexo vaginal ou não”, afirma Torrón.

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