Domingo, 24 de novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 20 de outubro de 2024
Qual é o significado de um miado de gato que fica cada vez mais alto? Ou quando seu animal de estimação, de repente, muda de um ronronado tranquilo enquanto você acaricia as costas dele para morder sua mão? Acontece que esses momentos mal compreendidos com o seu gato podem ser mais comuns do que se imagina.
Um estudo de pesquisadores franceses, publicado este ano na revista “Applied Animal Behaviour Science”, descobriu que as pessoas têm muito mais dificuldade em interpretar os sinais de um gato infeliz (quase um terço errou) do que os de um gato satisfeito (cerca de 10% erraram).
O estudo também sugeriu que os miados e outras vocalizações de um gato são amplamente mal interpretados e que as pessoas deveriam considerar tanto as pistas vocais quanto visuais para tentar entender o que está acontecendo com seus animais de estimação.
Os pesquisadores chegaram a essas conclusões a partir das respostas de 630 participantes online, de voluntários recrutados por meio de anúncios nas redes sociais. Cada um assistiu a 24 vídeos com diferentes comportamentos de gatos. Um terço mostrava apenas comunicação vocal, outro terço apenas sinais visuais, e o restante envolvia ambos.
“Alguns estudos focaram em como os humanos entendem as vocalizações dos gatos”, disse a autora principal do estudo, Charlotte de Mouzon, especialista em comportamento felino da Université Paris Nanterre. “Outros estudos analisaram como as pessoas entendem os sinais visuais dos gatos. Mas nunca antes foi estudado ambos na comunicação entre humanos e gatos.”
Os gatos exibem uma ampla gama de sinais visuais: balançar o rabo de um lado para o outro, ou erguê-lo no ar; esfregar-se e enrolar-se em nossas pernas; agachar-se; achatar as orelhas ou arregalar os olhos. Suas vocalizações podem variar de sedutoras a ameaçadoras: miar, ronronar, rosnar, sibilar e gritar. Até o último levantamento, sabia-se que os filhotes usavam nove formas diferentes de vocalização, enquanto os gatos adultos emitiam 16.
Pode parecer óbvio que poderíamos entender melhor o que um gato deseja usando sinais visuais e vocais. Mas sabemos muito menos do que pensamos.
“Frequentemente tomamos como garantida nossa capacidade de entender as pessoas e os animais com quem convivemos”, comenta a diretora do Laboratório de Interação Humano-Animal da Universidade Estadual do Oregon, Monique Udell, que não participou do estudo. E completa: “Vale a pena fazer essas investigações porque mostram que nem sempre estamos certos, e nos ajudam a entender onde estão nossas limitações, mostrando que realmente nos beneficiamos ao ter várias fontes de informação.”
E o fato de não sermos muito bons em perceber sinais de descontentamento animal não deve ser uma surpresa, sugeriu a diretora do laboratório.
Mesmo alguns dos sinais mais comuns podem ser mal interpretados. O ronronar, por exemplo, nem sempre é um sinal de conforto.
“O ronronar pode ser exibido em condições de desconforto ou estresse”, revela Charlotte. “Quando um gato está estressado ou até mesmo machucado, ele às vezes ronrona.”
Esses casos são uma forma de “auto-consolo”, de acordo com a professora assistente de saúde e comportamento animal, Kristyn Vitale, na Unity Environmental University, no Maine, nos Estados Unidos, que também não participou do novo estudo.
A mesma falta de entendimento aplica-se aos sinais visuais dos cães.
“As pessoas tendem a perceber o abanar do rabo como algo muito positivo”, diz Monique. E argumenta: “na verdade, existem tantos sinais sutis diferentes que podem ser transmitidos com o rabo. O rabo está abanando mais para a esquerda ou para a direita? Com que velocidade está abanando? Está acima ou abaixo da linha média? Todos esses movimentos significam coisas totalmente diferentes. Alguns são felizes. Outros são sinais de pré-agressão. Você pode ver todo o espectro apenas no movimento do rabo.”
Os pesquisadores dizem que esses estudos podem ajudar a melhorar não só o relacionamento pessoal dos donos com seus animais, mas também o bem-estar animal.
Como exemplo, a autora do projeto, apontou o hábito dos gatos de morder de repente. “Com o tempo, com os gatos se comunicando e os humanos não entendendo, o gato simplesmente morderá”, disse ela. E prosseguiu: “porque eles aprenderam ao longo do tempo que essa é a única maneira de fazer algo parar.”
Abrigos de animais utilizam esses achados para educar potenciais donos. Monique e Kristyn estão avaliando se os gatos podem ser adequados como animais de terapia, ou no auxílio a crianças com diferenças no desenvolvimento.
Tais intervenções são “cada vez mais importantes quando estamos olhando para a saúde mental, quando estamos tratando de crianças que têm dificuldade em criar vínculos com pessoas, se considerarmos o que agora é considerado a epidemia de solidão”, disse a diretora Monique.
Ela continuou: “Esses são todos lugares onde a companhia animal pode fazer uma grande diferença.”